Gabriela Ribeiro
MSc, PhD
Professora Auxiliar Convidada
Metabolismo e Nutrição
NOVA Medical School, Faculdade de Ciências Médicas NMS
FCM, Universidade NOVA de Lisboa.
A relação entre a alimentação e a saúde mental é complexa, bidirecional e de longa duração.
Por um lado, várias doenças psiquiátricas apresentam fatores genéticos em comum com doenças cardio-metabólicas. Assim, doentes com vários diagnósticos psiquiátricos, tais como depressão, doença bipolar, esquizofrenia entre outros, apresentam um maior risco biológico de desenvolverem alterações metabólicas. Por outro lado, pessoas com doenças psiquiátricas, também apresentam fatores comportamentais de risco, entre os quais alimentação pouco equilibrada e sedentarismo. Os estilos de vida pouco protetores, por sua vez, são influenciados por questões complexas, tais como, questões socioeconómicas e pelos próprios sintomas que podem incluir alterações do apetite e da energia. Este conjunto de fatores faz com que a doença mental esteja associada a maior risco de desadequação nutricional e metabólica.
O eixo microbiota-intestino-cérebro, por sua vez tem emergido como um mediador importante desta relação entre a alimentação e a saúde mental. Este eixo permite a comunicação bidirecional entre a microbiota intestinal e o cérebro através de vários mensageiros produzidos pelas bactérias intestinais. Estes mensageiros conseguem levar informações ao cérebro e vice-versa, impactando assim a função cerebral e o comportamento, tal como o humor e a ansiedade.
De facto, foi encontrado um padrão de alterações da microbiota intestinal que era comum a vários diagnósticos psiquiátricos. Este padrão consistia em proliferação de bactérias pouco benéficas e depleção de bactérias protetoras. Esta evidência e outras levaram à ideia de que talvez fosse possível melhorar sintomas psicológicos modulando o eixo microbiota-intestino-cérebro, ou seja, “corrigindo” as alterações da microbiota intestinal. Um dos fatores que mais tem impacto na modulação da microbiota intestinal é alimentação. Nomeadamente, alimentos ricos em fibra, fitoquímicos, alimentos probióticos e fermentados contribuem para uma microbiota intestinal robusta.
Com base nesta evidência, foram testadas intervenções nutricionais, nomeadamente dietas do tipo mediterrânica, em doentes com depressão major, de forma a perceber se os doentes que recebiam a intervenção nutricional melhoravam dos sintomas de depressão. E, de facto, os doentes que receberam intervenção nutricional como complemento ao tratamento farmacológico habitual diminuíram mais os sintomas de depressão em relação a um grupo de controlo. Estes resultados também foram verificados em homens jovens com depressão, um grupo geralmente menos estudado.
Apesar de serem necessários estudos adicionais, nomeadamente para identificar que mecanismos estão subjacentes às melhorias da saúde mental através da dieta, esta é uma área promissora. Até existirem mais desenvolvimentos nesta área é fundamental capacitar a população e os profissionais de saúde para a complexidade da relação entre a nutrição e a saúde mental. Mais importante ainda, é identificar as pessoas particularmente em risco e desenvolver estratégias alimentares personalizadas.