Como reduzir o risco de cancro?

Abr 30, 2025 | Artigos

Bruno Heleno

Professor Auxiliar NOVA Medical School | Faculdade de Ciências Médicas | Universidade Nova de Lisboa
Médico, assistente graduado de Medicina Geral e Familiar
Unidade de Saúde Familiar das Conchas | ULS Santa Maria

 

O cancro é uma das principais causas de morte em Portugal. Nem todos os casos de cancro podem ser evitados, mas há formas eficazes de reduzir o risco. Estima-se que em cada 1000 portugueses, 286 venham a ter um diagnóstico de cancro antes dos 75 anos e que 112 venham a morrer de cancro antes dos 75 anos.[1] Atualmente, estimamos que cerca de 40% dos cancros em países desenvolvidos – como Portugal – devem-se a causas modificáveis. [2] Isto é, se conseguíssemos eliminar as causas evitáveis, 114 em cada 1000 portugueses deixariam de ter cancro antes dos 75 anos, e 45 em cada 1000 deixariam de morrer de cancro antes dessa idade.

Entre os fatores que podemos modificar, o tabaco é o mais importante. Deixar de fumar é a melhor decisão que se pode tomar para proteger a saúde. O consumo de álcool, mesmo em pequenas quantidades, também está ligado ao desenvolvimento de vários tipos de cancro.

A prática regular de exercício físico, o controlo do peso e a  alimentação equilibrada, com muitos legumes, fruta e cereais integrais, e com menos carnes vermelhas e processadas, ajuda a reduzir o risco. A vacinação contra o vírus do papiloma humano (HPV) e contra a hepatite B previne infeções que podem causar cancro. Também é essencial proteger a pele do sol, evitando queimaduras solares. [3,4]

Para além da prevenção, existem formas de reduzir as consequências do cancro. Em Portugal,[5] a Direção Geral da Saúde aconselha os rastreios do cancro da mama, do colo do útero e do intestino. Estes permitem detetar estas doenças numa fase inicial, quando é mais fácil de tratar e as hipóteses de cura são maiores. Ao contrário das outras medidas, os rastreios não evitam o aparecimento do cancro, mas ajudam a reduzir o número de mortes por esses cancros.

É importante lembrar que ninguém tem culpa por ter cancro. Mesmo quem segue um estilo de vida saudável pode desenvolver a doença. Além disso, as condições de vida e trabalho influenciam o risco de cancro.[6] Ter acesso a alimentos saudáveis, a espaços seguros para fazer exercício, a serviços de saúde e a informação clara sobre prevenção, condições de trabalho e habituação adequadas depende muitas vezes, de fatores económicos e sociais. Por isso, é essencial criar ambientes que facilitem escolhas saudáveis e garantam que todas as pessoas, com ou sem doença, são tratadas com dignidade e respeito.

 

Bibliografia

[1] Ferlay J, Ervik M, Lam F, Laversanne M, Colombet M, Mery L, Piñeros M, Znaor A, Soerjomataram I, Bray F (2024). Global Cancer Observatory: Cancer Today. Lyon, France: International Agency for Research on Cancer. Available from: https://gco.iarc.who.int/today; acesso a 21 abr 2025.
[2] GBD 2019 Cancer Risk Factors Collaborators. The global burden of cancer attributable to risk factors, 2010–19: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2019. Lancet. 2022;400(10352):563–91.
[3] Colditz GA, Seres D, Hesketh PJ, Swenson S. Overview of cancer prevention [Internet]. UpToDate; 2024 Aug 23 [Literature review current through: Mar 2025; acesso a 21 abr 2025]. Disponível em: https://www.uptodate.com
[4] Ko YJ, Qaseem A, Randall D. Cancer prevention [Internet]. DynaMed; 2023 Jun 14 [acesso a 21 abr 2025]. Disponível em: https://www.dynamed.com
[5] Direção-Geral da Saúde. Avaliação e monitorização dos rastreios oncológicos de base populacional: relatório 2024 [Internet]. Lisboa: DGS; 2024 [acesso a 21 abr 2025]. Disponível em: https://www.dgs.pt/ficheiros-de-upload-2013/20250209_avaliacao-e-monitorizacao-dos-rastreios-oncologicos-de-base-populacional_24-pdf.aspx?%C2%ABmlkvi%C2%BB===DwAAAB+LCAAAAAAABAArySzItzVUy81MsTU1MDAFAHzFEfkPAAAA
[6] Marmot M. Health equity, cancer, and social determinants of health. Lancet Glob Health. 2018 Mar;6(Suppl 1):S29.